quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Lendários

Num tempo já perdido,
Jovens se uniram em irmandade
E selaram com sangue
Um pacto de lealdade.

Um longo êxtase
De paixão e liberdade.

Semanas que valiam meses,
Meses que valiam anos
E a cada ano, décadas de histórias
Vividas de corpo e alma.

Pois essa era a magia:
Viver intensamente.

Inumeraveis os brindes
Erguidos em honra a essa amizade
E a poesia que se riscava
Na folha era só onda distante
Da poesia real dos dias.

Um dia de cada vez.
Cada dia mais e mais.

Mas se a areia desses tempos
Já escorreu dos dedos do mundo,
Sua lenda ecoa,
Contando as glórias
Da Irmandade Cinzenta.

Liberdade e Lealdade.
Um por todos e todos por um.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mas se for só verso

Se for só verso,
A poesia,
Será só morte
A verdade da vida.
Será só noite
A história do Sol
Será só carne
Toda a chama do amor

Se for mera palavra
O rastro dessa pena
Será mera palavra também
O horror do coração
Toda a paixão, mera palavra

Se não houver sentido,
Nada em mim sentirá
Nem o mundo repetirá
As lágrimas que o
Poema torna eterno cristal

Se for só verso,
Será só uma coisa vã
E não tenho tempo

A perder


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Enquanto eu andava...

    Enquanto andava, ia conversando com Deus e a sua natureza. Tudo era intenso, marcante, talvez por estar com a alma exposta, o coração nas mãos, uma alegria estranha, parecida com com a calma, com a aceitação incondicional da vida. Não sei quanto tempo andei. Lembro-me primeiro do sofrimento do corpo, uma dor tão profunda que percorria meus ossos, vibrava pela medula, inundando meu cérebro de pedidos de socorro. Depois passou, como num ato de Poder, meu espirito saiu para fora do corpo, pairando acima deste e me fazendo sentir como se tivesse dobrado de tamanho. A dor cessou por completo e uma onda de paz me tomou, fui sentindo de fora do corpo uma luz de compreenção, uma voz que saia de dentro de mim e passou em revista cada ato que consistia minha vida, e num flash, foi colocando tudo na balança.
    Enquanto andava, ia conversando com Deus, extasiado com o poder e resplendor dos Seus mistérios, vivendo uma experiência de desdobramento que salvou meu corpo de sucumbir ao cansaço e a dor. A noite acolheu o caminhante e num estalo, desliguei-me da carne, da angustia e sofrimento. Sondei a morte e entendi sua razão.
    Não lembro como voltei para dentro do corpo, mas sei que cheguei onde eu queria e nos dias que se seguiram, uma inspiração possante usou minha pena, falou coisas profundas, numa poesia suave de beleza e claridade. Aquele estalo atirou uma pedra no espelho de minhas águas e suas ondas ainda ecoam por dentro de mim.
    Tudo isso enquanto eu andava.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Caminho Reto

Do que é feita nossa fé?
Cada credo, cada um.
Um Ser Criador
Sentido de incontáveis maneiras.

Um arrepio que subiu pela espinha
Dos primeiros humanos.
Sentimentos profundos
Ligados a um saber invisível

Pela fé se morre
Pela fé se vive

Pela  fé se mata
E pela fé se salva

Tenho fé no caminho reto
Que se pisa nas curvas da estrada
Porque Deus escreve certo
Por estas linhas tortas


Amém

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Flecha da mata

Flecha zuniu
Indiarada chegou

Fazendo grito
Lá de dentro da mata
Chamando as manifestações

Flecha zuniu
Indiarada chegou

Operando cura
Com seus mistérios
Segredos da natureza
Desde a noite dos tempos

Chuva de flecha
Da mata choveu
Onde acertasse,
Nascia uma flor
Perfumando e colorindo
A passagem
Da indiarada que chegou

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

    Ia passando quando avistei um homem, um senhor de idade bastante avançada, a julgar pela fisionomia, mas dono de um sorriso tão sincero e radiante que imediatamente lhe sorri também, contagiado pela energia luminosa que emanou daquele ancião tão puro e feliz.
    Como num flash, "vi" essa energia se expandir em todas as direções, como legítima explosão detonada pelo sorriso. Um rastro de alegre magia fez despertar todas as criaturas, grama, terra, poeira fizeram refletir em cores e sons tamanha força. O mundo ficou mais colorido.
    Parei. Acenei para ele. Saudei-o dizendo "bom dia!" e andei em sua direção. Ao chegar junto do velho, estendi-lhe a mão que por vez pegou-a num aperto jovial e vigoroso e para minha surpresa, deste aperto ele  me cercou num abraço de amigos que não se vêem a tempos. retribuí seu abraço e pedi-lhe a benção. "Deus te abençoe, irmão.", disse-me. Pedi-lhe um pouco de água e ele me deu seu cantil dizendo-me que bebesse a vontade.
    Seus olhos eram profundos e brilhavam muito. Me olhavam de maneira pacifica e amistosa. Com poucas palavras conversamos um pouco, contei-lhe que estava de passagem, peregrinando."Todos estamos!", disse-me rindo o homem. Deu-me conselhos sobre a estrada e indicou pessoas para eu procurar, contou uns causos daquelas terras, sempre com um humor envolvente, cativante, de inteligência e bondade.
    Nossos caminhos apenas se cruzaram naquela manhã qualquer, mas jamais esqueci o poder daquele sorriso, a força vibrante que a alegria daquele homem, já envelhecido no corpo, mas com um espírito de menino emanavam ao mundo ao redor.
    Talvez ele fosse um anjo que Deus colocou na beira da estrada pra matar minha sede, tanto de água quanto de amor. Um anjo desses que Deus disfarça e manda nos dizer mensagens, amparar nossa jornada e fortalecer nossa fé.
    Com Deus, sigo a caminhada...

domingo, 12 de setembro de 2010

Nuvem - Veloz

Estou no céu
Sou Nuvem-Veloz
Repara eu passo
Já passou

Estou no céu
Sou Nuvem-Veloz
Vai olhar
Já não estou

Enquanto passo
Vento sopra forte
Da mudança
Dança-Nuvem-Veloz

Céu de transe
Nuvem.Forma
Mudou mudou
Vento soprou
Nuvem passou
Nuvem-Veloz

Já passou
Já mudou

sábado, 11 de setembro de 2010

Declaração

A casa está limpa
O coração está em paz
A mente vibra serena
Pra receber Deus vivo

E já está

Tenho força pulsando
Porque sou livre
E sou guerreiro

Tenho amor pulsando
Porque encontrei minha estrela
E tenho fé e sou fiel
Fiel soldado da luz

Tenho o poder pulsando
Porque sigo meu caminho
Sem me perder por aí
Tenho tudo onde estou
E afirmo e declaro!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ESTRADA-FRENTE

EU DURMO DEBAIXO DE ESTRELAS
DESCANSO SOB A SOMBRA DAS ÁRVORES
CONVERSO COM ESTRANHOS
JEJUO E ME FARTO
COM A OFERTA DA TERRA

EU CANTO JUNTO COM OS PÁSSAROS
AO LONGO DA ESTRADA
VOU VENDO TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO
E INDO PARA ONDE O VENTO LEVAR

EU AMO E ME FORTALEÇO
AS VEZES APRENDO DA PIOR MANEIRA
MAS CONFIO NA FÉ
NÃO DEIXO A TRISTEZA VENCER A ESPERANÇA

ESTOU NA ESTRADA
MORANDO DENTRO DE MIM MESMO
PODENDO CHEGAR EM QUALQUER LUGAR
EM LIBERDADE

O SOL, A LUA, AS ESTRELAS
ENTRE A TERRA, O CÉU E O MAR
ATRAVESSANDO A FLORESTA
SEM PRESSA DE CHEGAR

UM DIA EM CADA LUGAR

Elo

Reinado de amor adentre meu peito,
Sossegue minhas águas,
Harmonize meus ventos,
Silencie minha mente e
Acresça ao meu coração,
Tão pequeno,
Tua imensa obra de amor.
Eleve as vibrações do meu espirito
Às tuas freqüências sagradas de Paz.

Sou apenas gota, grão,
Mas entrego meu ser total
À tua causa.

Absorva,
Reinado de amor,
Minhas forças
À tua corrente.

E me ensina
A ser elo forte
E firmar o balanço
Sem esmorecer.

Amém.

Duplo

Existe uma parte minha
Que nunca desceu das árvores
Que inunda meu pensamento de florestas
Revivendo a todo instante
Os cheiros e o significado dos ventos
Assoviando as canções dos pássaros
E brincando de imitar as feras

A antiga floresta renasce
No solo fértil do meu espírito
Sorri teias de aranha
Enquanto acompanha meu passeio
Enquanto eu a cruzo junto à chegada do Sol

Desencontro

Não é hoje o dia
Da nossa alegria?
Já tendo passado a chuva?
Já o vento varrido as ruas,
Labirinto dos nossos desencontros?

Não creio que o Sol
Vá nascer amanhã.
Já não acredito no Sol,
Nem nas manhãs.

O mundo todo está triste.
Eu engoli, no jantar,
A tristeza toda
De todo o mundo.

Hoje seria nosso dia
Mais feliz
(Se algum dia ainda fosse nosso)

Virá, eu sei,
Um momento exato...
Mas a pureza
Só existe uma vez.
Tudo, depois,
É mácula, é farsa
E até o amor
Tem o sabor da falta.

Nosso dia se perdeu
Por aí.
Eu te perdi,
Você me perdeu,
Perdemos a hora,
A razão, a paz,
A ternura.
Perdemos o que nos unia.
Eu me perdi,
Você se perdeu.

CURA

Entrei num universo paralelo
No reino da mata
E presente eu estive
Em um ritual

A força do vegetal
Alinhando meu corpo
E ereto me fez antena

Chocalhos batiam
Sons energizantes
E os cantos chamavam
Curandeiros do astral

A cura era uma aura verde
Que trazia o pensamento pra realidade
E devolvia ao corpo sua saúde original

A floresta balançava
Perante o poder vegetal
Num bailado ritmado
Que fazia tremer o terreiro

Nessa aura me banhei
E recebi minha cura
Pra Terra voltei
Mas ainda balanço

Ao som dos maracás

Coragem, coragem!

Mudar de cara
De vida, de cor
De país, de amor
De bandeira
De idéia, de nome

Mudar pra não
Ser sempre igual

Parar de fumar
De mentir
De engordar
De chorar, de sofrer
De dizer o que não devo

Parar de ter sempre
Os mesmos defeitos
Aprender coisas novas
E coisas bem antigas, também.
Aprender quem eu sou, de verdade...

Consagração

Quando não te entendia
Eu sofria
E te fazia sofrer

Você me dizia uma coisa
Eu entendia outra
Até o dia em que bebi da tua lágrima
E provei do teu sal

Aí eu vi também
Aí eu vi tão bem
Quem era você

Dai-me tua lágrima
Teu sangue,
Teu suor

Dai-me tua carne
Para eu renascer
Na mesma flor que você

Chegada

Sinto tua chegada
Com um calafrio na espinha
Com uma onda quente
De paz e prazer percorrendo o corpo
Um afago o despertar
Um perfume da minha ancestralidade

Te vejo chegar devagar
E já está, já estamos, então
Então o vento, varrendo
Então a chuva, lavando
Teu beijo da mais profunda entrega
Tua voz sufocada e sacrificada
Minha mão penitente
Entre seus dentes, suas presas...
Frutificando na carne terra
No trono da tua barriga de mãe

Vi nascer teu chegar
E me enlaça carne e terra
E me completa em terremoto
Jorra sobre meu corpo rio de amor
Cachoeira teu fogo ardente
Oceano ao meu redor
Vestindo a Lua de cocar
E um colar de estrela viva,
Ouço chegar teu canto
Na maciez da pele
Na rigidez das tuas montanhas
Nos cumes altos, encobertos por nuvens

Acaricio tua chegada
Com lágrima nos olhos
Água clara de comoção
Por tua pureza
Pelo brilho da tua beleza
Por poder, por estar

Vejo pelo meu coração alado
Recebo tua chegada, teu beijo
Antecedo e aguardo tua estação
Na praia, na noite, por entre céus e lençóis

Mantenho o mantra enquanto tu chegas,
Consagro a maré que me inunda,
Cêdo por completo para edificar a partir de ti
Por sobre tua espera de nascer para mim
Nas águas mansas do meu regato

Celebro tua chegada com suor
Com sangue, com sêmem
Porque tu és a vida

Geme, frente à tempestade
Implora com as pernas trêmulas
Outro furacão por dentro de ti
Suspira à garoa enquanto me abro arco-íris cor

Passeia por mim pra marcar tua chegada
Rompe mata intocada, acampa em meu peito
Descobre a clareira entre as figueiras
E faz casa em meus braços
Se sirva do meu fruto, da minha seiva
Da minha fonte... beba a tua sede toda


Compreendo no silêncio a tua chegada
Quando ouço o fim da minha espera
Quando encontro tua estrela no céu
E desço cadente envolto em tua luz
Com o peso do abraço
E chego macio bem quando tu chegas, também...

Beijo tórrido noite
Laços ao nosso redor
Ponte aberta entre nós dois
Veemente
Recriando enquanto amor
Transmutando carne em pão
Pão em terra
Sangue em vinho
Vinho em água
Gozando a vida farta
Em transe de entrega total

Tu chegas mais e mais
Para ser junto a mim
E te recebo

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Casco

Suportar
O frio, a fome, a solidão
Suportar
O silêncio, o fardo, a incerteza
Suportar
O cansaço, a dor, a incompreensão
Suportar
O calor, a demora, a exaustão
Suportar como a terra
Pra ser terra
E semear boa semente
E nutrir boa árvore
E colher bons frutos
Com perseverança
E amor no coração

Me conecte, Senhor
Ao meu próprio poder
Para eu saber o tempo do tempo
E saber dar tempo ao tempo



Amém

Canções de Acampamento

(Visão)



Cavalos correndo em bando
Lobos correndo em matilha

Sorrisos viajando a velocidade da luz
Lágrima inundando todo o universo

A vida torna a nos unir
Um a um até ser todos nós





(ReVisão)



Cavalos viajando o sorriso
À velocidade da lágrima

A vida torna a caçar
Reunindo matilhas

Lobo inundando
Até ser todos nós

Todo o universo
Caçando em bando

A luz voltando a sorrir
Caçando a lágrima
À velocidade da vida

Awá-Eté

Quando a noite caiu na montanha
O Pagé a iluminou com o fogo
E seduziu com o seu ritual

Seu canto caçando os ventos
Para prende-los entre quatro direções
Chamando guias com o pé descalço no chão

A noite em transe, usando o corpo do velho Pagé
Bebeu o chá da noite
O velho chá da noite encantada
O copo de transe que
O Pagé deu pra noite tomar

O Pagé devorou a montanha
E te deu o coração da Terra
Para pulsar dentro do estômago cheio de pedra

O fogo arde poderoso
Quando os ventos são libertados
(os mensageiros)

O fogo arde sem queimar a montanha
O Pagé some antes da noite acabar

Espreita

Onde procurar?
Sabendo por lei
Que está em todo lugar
E mesmo assim invisível,
Impensado pela mente

Sentir com plenos sentidos
Cinco, seis, improváveis sentidos

Mas agora estou acordado
Sonhando em consciência
Desbravando minha luz
E minha sombra
Inventando ciência
Para saber-me.

Sou uno

Quieto, neutro a tudo
Deixando o mundo existir
Por si só
Fazendo apenas a minha parte
E sofrendo apenas por mim
Em cada dor do mundo

Está em todo lugar
Estou vendo bem
Dentro da minha
Sagrada Visão

De pé, de pé,
Bem de pé
Pronto sempre
A seguir à frente
Eu vou indo, estou indo
Vou assim e
No meu passo

Como tartaruga
Mas com a coruja
Pousada no casco

Procuro em mim mesmo
E me acho
As partes que contem resposta

Micro e macro
O Cosmo que habito

Estação

A antiga floresta dança
Sob a benção da chuva
Recebe com amor o vento
E a estação que em breve virá

O silencio não existe
A floresta nunca está só
Pois a vida nasce da morte
O novo cresce em honra
Ao que envelheceu

Da sua água cristalina
Da metamorfose das suas trilhas
Da perseverança das flores
Da força mágica do ser frágil
Da sinfonia dos pássaros e insetos
Do movimento das tuas folhas
Do sagrado com o que alimenta
Cada face do seu mistério

A antiga floresta dança

Fortaleza

Sou fortaleza
Estou à posto
Livre
Com voto firmado
E guiado
Pela força da fé

A zombaria não me insulta
A violência não me fere
O mau juízo não conhece meu peso
Meu templo é consagrado à Deus
E a Ele dou Louvor
E só a Ele devo contas

Sou fortaleza
Firmada na pedreira do Amor
Defendo a liberdade
Sendo livre em mim mesmo
Sob o comando de Deus

Humanos da terra

Os humanos aqui da terra
Vivem uma aventura singular
Povoaram todos o planeta
E dominaram o destino
De todos os outros seres

Sabem-se divinos
E não conhecem seu Deus

Estão com os olhos vendados
Tateando no escuro
Com erros e acertos

Os humanos estão órfãos
Do pai e da mãe
Dos seus avós
Da gênese da vida

E rogam,
Por vezes com arrogância,
Que sua memória lhes alcance,
Que sua missão se revele
Para saberem, enfim,
Em que direção seguir

Estes humanos, aqui na terra
Estão vivendo o sonho
E tentando acordar
Dentro do próprio sonho
E aprender a sonhar
E enfim sonhar
Um novo mundo

I.C.

Em algum lugar corre
A matilha cinzenta
Entre as sombras
D´um reino injusto
E um sonho de aurora dourada

Passos sem som
Que ecoam na eternidade

Fantasmas cinzentos
Percorrendo as trilhas
Que a loucura instigar
E que o luar vier benzer

Delírios cinzentos
Sem matéria ou distinção

Presas cinzentas
Caçando em bando

Sonhos cinzentos
Desmentindo o absurdo

Lobos sem forma
Em fúria na noite

Saídos do futuro
Renascidos de extinta chama
Que o espírito recusa apagar

Matilha incerta
Sem inicio
Sem final

Um vendaval
Antecedendo a tempestade
E uivos selvagens
Invocando a noite

A revolta das direções
Os sentidos em colapso
O comum em cataclismo
E risos vindos
De clareiras distantes

A noite em que o vento
Falará a todos os povos
As frases do silêncio
Ouçam as pegadas
Da matilha cinzenta


(Sou fantasma na densa mata)

Lindo dia

Hoje é o dia mais lindo
Hoje é o dia mais feliz
Porque hoje sou
Hoje estou
O Sol vivo
Raio de amor
Por sobre a Terra

Meu Sol também vigora
Hoje luz d´um lindo dia

Hoje paz
Hoje amor
Hoje harmonia
Hoje clara luz
De Deus no meu coração

ROMARIA

Sou Peregrino
Terço na Mão
Pé no Chão

Caminho Valente
Estrada Frente
Pó na roupa
Sol à frente
Pé no Chão
Deus na Mente
E no Coração

Faço sozinho
A Procissão

Estrada
Trilha
Rompe-Mato
Cobra-Coral
Passo atrás
O Temporal
Passo à frente
O Vendaval

Amém

Sombra

(ou a história do mundo re-contada pelo in-verso do Sol)




Escutar o movimento
Do planeta
Saber da sombra
O assombro
Do dia indo embora

Tenho tudo

Tenho o chão debaixo do pé
Tenho o céu inteiro
Tenho Deus no coração

Tenho cara de Terra
Olhos de Fogo
Gosto de Orvalho
E cheiro de Fumaça

Tenho um Amor profundo
Tenho o poder do Trovão
Tenho a calma das montanhas
E tenho a chama da transformação

Tenho todas as cores, todos os sons
Todas as formas e todos os sabores

Tenho a mata!
Tenho o mar!
Tenho um olho prata pra Lua
Tenho um olho ouro pro Sol

Tenho calma e tenho amor
Tenho tudo onde estou

Tenho raízes no chão
E o coração envolto na Terra
Tenho flores nos cabelos
Tenho penas no cocar
Tenho sementes germinando no peito
Tenho amor demais no coração

Tenho as notas da canção

Tenho tudo
E declaro!

Testemunha

Devagar, devagar
Testemunhando o Tempo
Pela própria tradição

Amigo das pedras
Dos registros da história
Ouvindo com reverência
E atenção
Amigo das estrelas
De brilhos talvez
Já apagados na noite dos tempos
Fazendo sua derradeira viagem

Pisando a terra
Devagar, devagar

Com o pio da sabedoria
Pousado no ombro esquerdo

Tinta vermelha

Urucum
Zabumba
Saí na chuva
Chuva passou
Voei no vento
Urubu
Carcará
Águia levou
Deu olhos pr´eu olhar
Vi tudo
Zabumba
Saia branca
Vou voar
Kaê Arê
Okê Arô
Zabumba-flor
Epahei
Deixa eu voar
Óleo-de-flor
Urucum
Auê
Kaê Arê
Okê Arô

Orador de sonhos

Acocorado ao pé da grande fogueira
Vivo esse sonho de delicada fúria
Acreditando ser real o breve delírio

Sou um cavalo de pelo castanho
Livre e senhor de campos abertos
Governando a galope nobre e soberano

Sou um anjo de asas enormes
Trazendo em punho uma espada
Buscando em coração deserto
Solo fértil para a semente do amor

Sou guerreiro de peito nu
Marcado por runas de honra e glória
Gritando em êxtase canções de guerra

Transe-Noite

Quando a mente se cansa
E a noite insiste em brincar
Vai por dentro o canto
Dos encantados
E estremece em dança
Da magia dos seres noite

Um beijo tórrido e febril
Arrancando o Mito
De dentro de mim

O amor profundo
Tomando a carne
Sob o véu, a inspiração
Senhorita e anciã
Cortesã da madrugada

Vem e me enlaça,
Dama de Copas
De raízes cravadas na noite

Até o raiar do Sol

Uno

Eu Luz sigo à frente
Eu Sombra junto estou

Eu Luz raio de Sol
Eu Sombra água profunda

Eu Luz movimento e emano
Eu Sombra aquieto e acolho

Eu Luz transmuto em festa
Eu Sombra consolido em paz

Eu Luz Guerreiro Luz
Eu Sombra Guerreiro Sombra

Eu Luz sigo sorrindo
Eu Sombra sorrio junto

Eu Luz de joelhos rezo
Eu Sombra rezo também

Eu Uno, Te ofereço, Senhor
Minha Oração de União

Raios de Sol

São as primeiras horas
Do Sol no céu
Floresta úmida
De noite, cheirando
A orvalho e dia nascendo

Verdes tons opacos
Declinando ao cinza
Da massa da névoa
Que não se desfez
Por completo

E ver os primeiros
Raios de Sol
Chegarem a terra
E penetrarem, delicados
Na densa mata
Espetáculo de ver
Nascer o dia

Tamanho é o respeito
Da troca de amores, de turnos
Que faz cada pássaro
Da linda mata cantar

(Passo-firme, passo-leve e passo-guerreiro)

Valho-me em qualquer canto
Vou com Deus e sou guerreiro

Piso leve no planeta
Vou com calma e ao infinito

Sou comigo uma luz verde
Quero a cura para todos

Deixo arder uma chama violeta
E ponho nela meu coração

Vou à pé, bem de pé
Pra chegar lá bem tranqüilo

Com toda calma eu vou guerreiro
Pisando leve no chão

Valho-me em qualquer canto
E à todo canto vou chegando

Vou com Deus, vou por Deus
E vou pra Deus, se Deus quiser

Viver de verde

Comer o verde das folhas
Beber a seiva dos troncos das árvores
Saborear o pólen
Beber água da fonte
Beber orvalho e chuva

Caminhar descalço
Dormir na mata
Comer mata
Pitar mata
Reflorestar

Reflorestar e viver na floresta
Reflorestar o chão do planeta
Plantar sementes com as solas dos pés
Andar pelo mundo inteiro

Novo homem

Novo homem abriu os olhos
Contemplou o uni-verso com visão renovada
Novo homem cósmico
Poderosa força estremeceu
E pela fé conectou-se à fonte
Agora jorra por seu olhar castanho
Profundo espelho de paz


Novo homem deu novos nomes
Chamou a todos de irmão

Or(Ação)

Fazer minhas mãos
Olharem-se

Para ver se meus dedos
Se sabem

Para que saibam-se
Dedos

Unir as palmas

As duas partes

(...a luta constante do que nunca foi só bem
com o que nunca foi tão mal assim... )

Riem-se os calos
Na companhia de iguais

(Já estamos mais perto da alma)

Saibam-se mãos
Saibam-se irmãs

Tragam o sonho
para o mundo real

Cigano

Noite voltou a falar
Na língua
Que nos une
Noite acendeu uma vela
Para que luz
Dançasse e movesse
As sombras

Tempo ficou louco
E trouxe de volta
Magia
Para poder encher
De realidade
A conversa

Lobo sorriu
E aceitou o convite
Para se sentar
Ao nosso lado
E pintou-se
Para dizer que
Sentiu-se honrado
Lobo é sábio
E vai me guiar
Nas trilhas onde
Lua não puder
Iluminar

Um novo totem apareceu
E com Asa-aberta
Voou no céu
Da noite com o
Poema que se
Sentia sozinho
E triste por não
Saber voar

Asa-aberta
Ensinará o vôo

Lobo e noite
E Asa-aberta
E Lua beberam
Comigo e
Fumamos para
Que vento
Pudesse levar
A fumaça para
Todas as partes

As pedras vieram e
Foram guardadas
Numa concha
Para ensinar
O jeito de superar
As dificuldades

Chuva, que andava
Com raiva,
Acalmou-se e
Também veio sorrir

Agora,
Com dia chegando,
Vamos dizendo
Até mais

E nossa aliança
Foi refeita
Para que perdure
Por muitas
Caras que Lua
Fizer
E verão
Dirá a outono
E outono dirá
A inverno e
Inverno dirá a
Primavera que
Nessa noite
Noite voltou
A falar a língua
Que nos une,
Para que
Não haja mais
Silencio entre nós

Amém

Batalhão

Um batalhão de amigos
Caminha comigo
Os mais queridos
Os mais leais
Os mais exatos e certos amigos
Que um homem, uma alma,
Podem ter


Sou parte desta legião de estrangeiros
Estou aqui por todos
Porque todos estão aqui por mim


Caminho junto
À um batalhão de amigos
Sou leal,
O mais exato e certo amigo
Seguindo em frente, pela vida
Lado-a-lado,
Um por todos,
Todos por um

(Aos que o tédio desagrada)

Aventure-se
Se tua coragem permitir

Suporte o desconforto
A imprevisão

Aventure-se
Se teu coração
Não suportar o tédio

Se tua Vontade
Suplicar o novo

Se tua vida estiver vazia

Passe por todos
Os limites

Sorria
À véspera das batalhas

Contradiga
A razão e o óbvio

Saia vivo

A glória te espera
Além destes portões

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Rancheiro

Um ranchinho na mata
Feito de corda e bambu
Um sossego
Um remédio
Um jardim coberto de flores
Com as cores aladas das borboletas
Um córrego bem limpo e gelado
Nascido ali na montanha
Depois segue, virar cachoeira

Um refúgio tranquilo
longe da mentira e da ilusão

A cantoria dos pássaros
O vento movendo as folhas
A água voltando pro mar

Meu rancho escondido
não fica perto das trilhas
Nunca esteve num mapa
E que só de acordo com a mata
É possível parar lá

Comida feita no fogo da lenha
Descanso feito na rede ou no chão
Rancho querido do meu coração

Pena de Coruja

Pena de Coruja
Me trouxe até aqui

Cavalo Cinzento
Me deu galope

Vou pela Terra
Viajando

Grande Árvore
Templo sombreiro da vida.

Traga-me das entranhas da mãe
Meu alimento,
O fruto abençoado do amor.

O céu com um rastro
Cor de laranja

A despedida do Sol
A magia do luar pra chegar

Vai e vai,
Pena de coruja

Abrindo as cortinas
Da ilusão

Ahow!

Pelo caminho...

Numa estradinha distante
D'um recanto verde,
Sento-me à beira
E deixo-me arrebatar.

Um silêncio perfeito
Sem vozes nem egos
E repleto dos sons
Da natureza.

O quero-quero
E o vento
E a tarde acontecendo
Junto com a vida.

Olho para o céu
E deixo essa imensidão
Me suster em nuvens.

Sinto o Sol
Poder gigantesco
Reinando a Terra.

Sinto a Lua a me embalar,
Regendo seu coro
De marés e águas.

É a vida aqui comigo
Sou eu, vivo com ela.
Consciente e por isso em paz.

Vôo

    Asas abertas, respiração suspensa, vertigem, êxtase...é o vôo da libertação.
    Vai, meu pássaro selvagem!
    Rasga os céus, alucina tua passagem furiosa, tua bravura e coragem...para além das estrelas vai teu vôo, vão tuas asas, teu ímpeto, para as órbitas longínquas, precipícios dos confins dos tempos.
    Vai e vou contigo, meu pássaro. Montado nas tuas asas!

Peregrino

Peregrino sempre de passagem
Cruzando estradas da vida.
Caminhos de encontros e desencontros.

Peregrino de pés descalços,
mãos calejadas, barba crescida
E olhos profundos,
Vagando pelos campos da Terra
E de si mesmo.

Peregrino que conversa com Deus
E nas noites de luar ou de nevoeiro
Redescobre o sentido da vida,
Reencontra a paz que os homens perderam.

Peregrino-Menino,
Sorrindo com as cores da natureza,
Dançando junto à chegada do Sol,
Sonhando sem medo ou pudor.

Peregrino-Ancião,
Aluno do tempo,
Marcado por runas
E sulcado por dores,
Paciente servo de Deus.

Peregrino-Amém.

Vigilia

    Adormeci após amar a noite por toda a noite, após ver a Lua dentro dos meus olhos e beijar a terra e cair de joelhos no seu chão. Sonhei estrelas e aspirei nebulosas, dancei dentro do coração do Universo e devolvi meu ser ao Criador.
    O tétrico riu-se do próprio horror, a escuridão deixou-se ver e deixou-se amar. O amor preencheu tudo e todos, cada oco e as altitudes, deslizou sobre as águas e mergulhou seus abismos profundos. Ergueu-se como aurora bem no cerne do medo, do abandono, do desengano.
    O Amor reinou pelo cosmo, fez-se conhecer nos mais distantes, frios e insondáveis refúgios da dor. O Amor me tocou e expôs-me ao avesso, nu, sem armas nem armaduras.
    E assim adormeci nos braços de Deus.