terça-feira, 28 de setembro de 2010

Enquanto eu andava...

    Enquanto andava, ia conversando com Deus e a sua natureza. Tudo era intenso, marcante, talvez por estar com a alma exposta, o coração nas mãos, uma alegria estranha, parecida com com a calma, com a aceitação incondicional da vida. Não sei quanto tempo andei. Lembro-me primeiro do sofrimento do corpo, uma dor tão profunda que percorria meus ossos, vibrava pela medula, inundando meu cérebro de pedidos de socorro. Depois passou, como num ato de Poder, meu espirito saiu para fora do corpo, pairando acima deste e me fazendo sentir como se tivesse dobrado de tamanho. A dor cessou por completo e uma onda de paz me tomou, fui sentindo de fora do corpo uma luz de compreenção, uma voz que saia de dentro de mim e passou em revista cada ato que consistia minha vida, e num flash, foi colocando tudo na balança.
    Enquanto andava, ia conversando com Deus, extasiado com o poder e resplendor dos Seus mistérios, vivendo uma experiência de desdobramento que salvou meu corpo de sucumbir ao cansaço e a dor. A noite acolheu o caminhante e num estalo, desliguei-me da carne, da angustia e sofrimento. Sondei a morte e entendi sua razão.
    Não lembro como voltei para dentro do corpo, mas sei que cheguei onde eu queria e nos dias que se seguiram, uma inspiração possante usou minha pena, falou coisas profundas, numa poesia suave de beleza e claridade. Aquele estalo atirou uma pedra no espelho de minhas águas e suas ondas ainda ecoam por dentro de mim.
    Tudo isso enquanto eu andava.

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